Desde adolescente encontrei nas teclas, e em toda tecnologia envolvida dos teclados e sintetizadores, uma paixão diferente. Sempre foram muitas horas e dinheiro investidos em todo processo de aprendizagem.
Obviamente o tempo passou, veio a família, a carreira… E as prioridades e disponibilidade para “o piano” mudaram. Mas sempre procurei manter o componente mais importante que o piano me trazia. É ali, sozinho, com o fone no ouvido, que consigo me desligar do mundo, esquecer meus problemas, preocupações e decisões que preciso tomar. Quando eu aprendo um novo arranjo, crio um novo tipo de som, ou simplesmente dedilho meu teclado. É nessas horas que você percebe a alegria das pequenas coisas da vida que muitas vezes só fazem sentido para você.
Certa vez, durante uma brincadeira, minha esposa disse: “… É, cada um tem o seu piano.”
A ideia dessa expressão é de que no fundo, no fundo, cada pessoa precisa ter seu próprio “refúgio”, um lugar, um objeto… uma pessoa. Algo que lhe permita se desconectar da pressão do dia a dia. Para alguns, o vídeo game, para outros, a paixão por carros, por futebol, academia, ou até mesmo um animal de estimação.
Nesse “novo normal” que vivemos, cheio de reuniões, trancados em casa, onde as crianças não podem mais ver os amigos, o futebol não pode acontecer, com restaurantes e shoppings fechados, vejo mais ainda o quanto é vital para o mundo corporativo, e para a produtividade individual, que estejamos focados em arrumar um tempo para nos desconectar, para nos desligar. O quanto é importante que cada um possa arrumar “O seu próprio piano”.
Sei que pode parecer um contrassenso dizer isso, mas creio que investir horas e horas na “pilha das nossas atividades” não quer dizer que vamos ser mais produtivos, não quer dizer que estamos fazendo da melhor forma, nem que seremos promovidos. Às vezes, mal paramos para ver se aquela forma de agir é de fato a ideal.
Você já passou pela experiência de passar o dia tentando resolver um determinado problema?
Em se tratando da área de tecnologia esse tipo de situação é bem comum. Tentamos de uma forma, lemos um documento técnico, atualizamos o ambiente, falamos com um amigo. E depois de gastar horas e horas, quando você praticamente desistiu, eis que surge a tão sonhada solução, bem no momento do banho. Justamente quando você para e respira pensando “fora da caixa”.
Mario Sérgio Cortella cita em um dos seus artigos que:
“O ócio é quando você tem tempo livre e pode escolher o que fazer. Sem compromissos a cumprir, o tempo de ócio nos ajuda a criar, a ir adiante, a experimentar.
Podemos, por exemplo, aprender o que não sabemos.
Tudo o que nos tira do campo obrigatório da ação permite que sejamos mais livres na inovação. Certamente, haverá quem venha a dizer: “Ah, mas não tem como!”.
Mas é preciso procurar o ócio, fazer com que ele esteja em nossa vida, de modo que a gente escolha, com alegria, como vai se ocupar naquele tempo sem obrigações.”
Meu desafio e reflexão para hoje é que cada um busque seu próprio “piano”, ou melhor, seu próprio tempo. Um “piano” sem decisões importantes, sem compromisso na agenda e sem obrigações. Tire um tempo para você contemplar o dia, para ligar para um amigo, ou simplesmente para não fazer nada.
Obviamente, não estou dizendo que devemos ficar esperando as coisas acontecerem. Pelo contrário, temos que dar o nosso melhor sempre. Arar a nossa terra, plantar, adubar, e até irrigar, mas compreendendo que:
Bom, agora que chegamos ao final desse texto, tire um tempo com “o seu piano”. Se ele está perdido ou você ainda não faz ideia do que seja, invista um tempo nessa busca e priorize esse tempo para desligar e não fazer nada.
Fontes: Página no Facebook do Mário Sergio Cortella | Bible – SALMOS 127